(IN)DEFINIÇÃO
SOBRE O TRABALHO DO COLETIVO
O Coletivo Ambulante prefere usar o termo Ação ao invés de
Performance. Talvez pela influência de Joseph Beuys e porque a palavra Ação nos
incita muito mais do que performance. Sem dúvida, realizar uma Ação é estar e
constituir o lugar do entre e do não-lugar, realizar uma Ação é borrar as
esferas da Arte-Vida, é emoldurar o ato mais cotidiano e, com isto, propor um
dia-a-dia mais intenso, artístico, vivo e presente. Realizar uma Ação é colocar
os corpos em situação limite, desafiadora e de risco. Mas quais Corpos? Para
Coletivo Ambulante o Ser é composto de vários corpos, não só o físico, mas o
Corpo plástico, o corpo sensível-intuitivo, o Corpo emocional, o Corpo lúdico,
o Corpo intelectual e o Corpo espiritual. Estar em Ação é ter consciência de
todos os corpos e procurar rasgar a pele que os envolve e no risco encontrar a
falha. A falha enquanto o lugar do relacional, o próprio não-lugar da
identidade, o lugar a-pátrida, a-teológico, a-científico, enfim o lugar da
falha como lugar do imaginário e do simbólico. O Corpo como símbolo único da
representação do mundo. E como símbolo que é o corpo não apenas significa, mas
evoca e focaliza, ajunta e concentra, de maneira polivalente uma multiplicidade
de sentidos que não se reconduz a uma única significação, mas a várias
possibilidades, desde que os corpos estejam permeáveis para o outro e
para o ambiente. Realizar uma Ação é permitir que qualquer um outro intervenha
e provoque um (re)ação e, com isto, (re)construa algo inusitado, que não
dominamos, apenas compartilhamos.
Por isso escolhemos a rua para
realizar as Ações. Porque a rua é um lugar móvel, mobilizador, dinâmico e
fugaz. Buscamos uma composição com o espaço urbano. Para o Coletivo Ambulante há pelo menos duas maneiras de se
abordar uma cidade: existe a cidade superficial, racionalista, cartesiana
aquela onde triunfa a linha reta, os ângulos retos, o devidamente higienizado, onde
o caminho que se toma para chegar a um determinado objetivo é o caminho da
rotina, da repetição, do mesmo. Existe uma outra abordagem da mesma cidade, que
não é a abordagem da cidade superficial, mas é aquela cidade vista pelo corpo
sensível, que vê o invisível, a cidade da memória e do sentimento: a cidade
labiríntica, carente e faminta de afetos, composta por uma malha humana, que
tem seu corpo modelado pela cidade, no qual se (re)faz e se (re)organiza a cada
instante.
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